Ve-se nessa janela emoldurada a vida.
Nessa janela vê-se a vida que passou.
Nada mais é que uma via direta ao passado,
como uma maquina do tempo dos sonhos.
Ve-se riso, amor, alegria, tudo contrastante
com o contexto lúgubre e enfadonho de hoje.
E o rapaz perde-se por ver o que ficara e esconde
]com medo do reflexo da moldura
o ultrajante senso de vida ao seu redor.
No escuro, um copo guarda um disfarce
e de gole em gole ele bebe a sua dor.
E vai se desfazendo, se misturando ao escuro
do quarto, "fading away", e repara do canto
mais penumbroso, com os olhos amargos e vermelhos,
a única luz no meio de tamanha solidão.
Bobo, por um tempo animou-se, e até, de forma
pretenciosa, emitiu um vago sorriso sem dentes,
de orelha a orelha.
Mas com a mágica que veio,nas trevas se perdeu,
pois nao demorou para perceber
que essa luz que vira, essa esperança de vida que
fitou, foram apenas alguns momentos de alegria
que, eternizado no porta-retrato, só no seu passado presenciou.
" Se existe esperança ou forca pra lutar por algo na vida. Ela se encontra escondida num litro de Montilla."
Rodrigo A. F. Rego
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